segunda-feira, outubro 23, 2006

Segunda-feira


É segunda-feira, 8 horas da manhã, e tento cumprir a minha primeira boa resolução de início de férias – caminhar (quanto tempo isso vai durar? Talvez alguns dias, como todas as boas e saudáveis resoluções). As ruas ainda não acordaram totalmente, mas já se ouvem aqui e ali os ruídos da semana que se abre. Tudo parece novo por que há muitos anos não tenho essa chance de caminhar numa segunda-feira comum, enquanto todas as pessoas trabalham e eu não.

Busto de Dona Margarida - Praça Central
Enquanto vou cruzando as ruas, o ritmo dos meus passos acompanha o ritmo das pessoas e das coisas acontecendo. Portas que se abrem, gente varrendo lojas, calçadas, enchendo as vitrinas, mostrando ofertas, padarias exalando o maravilhoso aroma de pão, bares cheirando a café e pastéis. O ruído cresce devagar, gradualmente, mas em poucos minutos começa a invasão dos empregados das lojas. Os ônibus despejam uma multidão de gente, já em seus uniformes de trabalho; os carros já se mostram impacientes, e em menos de meia hora a cidade já ganha movimento.

Praça Central
O passar por uma escola sopra uma onda de nostalgia (há décadas não vejo uma cena com crianças em uma aula de educação física!). Esqueço que minha prioridade é manter o ritmo das passadas e começo a olhar tudo como se nunca estivesse estado aqui, ou melhor, como se estivesse ausente da minha própria cidade por anos.

Escola Gabriel de Oliveira
É engraçado como, aprisionados pela rotina do trabalho e dos horários, vamos deixando a vida acontecer e quando prestamos atenção quase não a reconhecemos – a cidade, as pessoas, a vida, não parecem a nossa – e ela nos surpreende trazendo sons, cheiros e cores que parecem diferentes.

A vida acontece – já dizia John Lennon – enquanto fazemos planos. A vida acontece sem que tenhamos tempo de viver o melhor dela. Se me perguntarem qual o melhor momento da minha vida, por certo irei vou imediatamente lembrar dos grandes momentos, das grandes felicidades. Mas ao sentir os aromas e os ruídos de momentos comuns, muitos deles raros para mim, como sentir o cheiro da comida sendo preparada nas casas enquanto você caminha na calçada, os ruídos do início do dia, o silêncio do fim do dia quando você volta para casa, o vento leve brincando de dar prazer aos seus cabelos, à sua pele, aí, sim, a vida parece ser um grande momento!

Fotos: Bete Padoveze - setembro 2012.