Razão no. 10 - Romi-Isetta

Foto: Bete Padoveze - junho 2010

A Romi-Isetta faz aniversário no mesmo dia que eu - 5 de setembro (ela é um ano mais nova - e aqui sei que estou abrindo a porta para os comentários sarcásticos sobre a minha...errr...idade).  A meu favor, devo dizer que eu ainda tenho licença para circular por aí a qualquer hora, não precisa ser em ocasiões especiais. A lataria? Bem, ambas precisam de um cuidado especial frequente para se manterem bem. Diferenças: a Romi-Isetta parou em 1961 e eu, 51 anos depois, ainda continuo. Outra diferença: a Romi-Isetta era bem mais econômica do que eu...
 

Romi-Isettas expostas no Cedoc da Fundação Romi (Foto: Bete Padoveze - Junho 2012)

Brincadeiras à parte, a Romi-Isetta é considerada o primeiro veículo nacional fabricado em série, com 70% de nacionalização. Sua data de nascimento é 5 de setembro de 1956  e foi lançada dois meses antes da Vemaguete, da fábrica Vemag.  Depois de apresentada ao então governador Jânio Quadros, o centro de São Paulo parou para ver o desfile da primeira série de veículos Romi-Isetta fabricados em Santa Bárbara d'Oeste. "O dia começou com uma caravana pelas ruas da cidade. No carro da frente, Américo Emílio Romi e Carlos Chiti. Eva Wilma, cujo programa Alô Doçura era o maior sucesso da televisão, foi uma das garotas-propaganda do carro." (1)


Eva Wilma mostrando a Romi-Isetta

A Romi-Isetta (ou 'o' Romi-Isetta?) é um veículo, no mínimo, exótico - parece um ovo gigante, mas o seu design é mais parecido com o de uma gota d'água. Comparada a outros automóveis, parece uma miniatura. O eixo traseiro é bem mais estreito que o dianteiro e aparenta ser ainda menor do que realmente é, com 2,27 metros de comprimento por 1,38 metro de largura. Sua única porta é frontal, para facilitar o acesso, e é inspirada nos aviões cargueiros (ao abrir, a porta arrasta a coluna de direção e o volante), e  o veículo acomoda duas pessoas.

A fabricação dos veículos Romi-Isetta começou em 1955 pelas Indústrias Romi, em Santa Bárbara d'Oeste, sob licença da fábrica italiana ISO Automoveicoli-Spa, que fabricava a Isetta (pequena Iso) (4). O Comendador Américo Emílio Romi, proprietário da então Máquinas Agrícolas Romi, homem de visão, acreditava no futuro dos automóveis compactos, agéis e econômicos para enfrentar as necessidades da vida moderna, principalmente nas cidades. O Comendador e seu enteado Carlos Chiti viam o pequeno veículo como a solução perfeita para o segundo ou terceiro carro da família, com preço acessível ao trabalhador ou ao estudante universitário, atingindo 85 quilômetros por hora e consumo de 1 litro de gasolina por 25 quilômetros rodados.

Linha de montagem da Romi-Isetta (Indústrias Romi - anos 50)

 

Apesar da aceitação popular e de contar com a simpatia do então presidente da República Juscelino Kubistcheck,  a fabricação passou a ter problemas motivados por pressões do GEIA - Grupo Executivo da Indústria Automobilística, órgão responsável pelo incentivo de fabricação de veículos nacionais, que estabelecia em quatro o número mínimo de passageiros de um automóvel. Sem os incentivos do governo, seus custos tornaram-se elevados e seu preço mais alto que um Volkswagen Sedan. Assim, a sua fabricação foi descontinuada em 1961, tendo sido produzidas pouco mais de 3.000 unidades.

Foto: Eduardo Deffanti - Junho 2010

Hoje existem poucas unidades da Romi-Isetta, que tornou-se um carro para colecionadores e aficcionados por veículos antigos, estando sempre presente em encontros e exposições. Em nossa cidade podemos vê-la no espaço expositivo do Cedoc, da Fundação Romi, e em encontros anuais de seus proprietários. (Encontro Nacional de Romi-Isetta - junho 2010)

Quando se fala da história da indústria automobilística brasileira, certamente o pioneirismo do Comendador Emílio Romi ao lançar-se a esse desafio não pode ser esquecido, fazendo de Santa Bárbara d'Oeste o berço da fabricação do primeiro automóvel nacional.

(1) "Romi Isetta, o pequeno pioneiro", de Ignácio de Loyola Brandão - 2004
(2) Foto de Eva Wilma extraida do site "Pelas ruas de Belém"
(3) Foto da linha de montagem extraída do site "Jornal de Plásticos"
(4) A Iso concedeu licença também à BMW, na Alemanha, à Velam, na França, à espanhola Borgward-Iso e à belga N.V.Anc.Ets.Pillette.

Série: 50 razões para amar SBO